quarta-feira, 10 de outubro de 2007

"Conversation Brother", por Breitner Tavares.


Oct, 10.

Eu sei. A solidão corrói a cidade. Mas ela também reluta. Se não estivéssemos sós, garantidos pelo nosso direito a “vida reservada”, não suportaríamos tantos desejos e apelos a que nos chegam distraídos, que seduzem e também destrói.

Há aproximadamente duas semanas atrás, participei de um projeto criado por alguns estudantes no College chama-se conversation brother. Trata-se de uma interessante iniciativa, na qual temos a possibilidade de romper a barreira da distancia social imposta pela vida citadina de São Francisco. Além disso, o projeto teria a função de aproximar pessoas de diferentes culturas, interessadas em aprender outras línguas, afinal o que não falta em São Francisco é língua. Tudo começa com o preenchimento de um formulário, onde informamos alguns detalhes sobre características pessoais tais como: idade, gênero, área de estudo, hobbies, etc. Daí aguarda-se, um contato que pode levar até duas semanas. Eu cheguei a conversar com alguns colegas coreanos a respeito desse projeto e os mesmos se mostraram pessimistas, pois haveria muitos “candidatos” de seu país o que reduziria as chances de alguém demonstrar algum interesse. Portanto, eu como brasileiro levaria uma maior “vantagem”.
Algum tempo depois, recebi um e-mail da coordenação que me informava ter encontrado alguém interessado em ser meu “brother”, seu nome era Weber, um historiador interessado em cultura brasileira. Eu deveria contatá-lo, para confirmar presença numa reunião de interessados no programa. Finalmente, todos os candidatos (as) se encontram numas das salas de aula, para uma primeira apresentação de caráter formal, organizadas por alguns mediadores. Eu fui um dos últimos a chegar, então ao ver umas 10 ou 15 pessoas, resolvi perguntar se alguma delas seria o Weber, contudo o “brother” só chegaria em seguida. Daí cada dupla tomou suas próprias decisões em relação onde e quando se encontrariam a freqüência o que conversariam etc. Eu e Weber sentamos e conversamos. Ele perguntou se eu era casado, o que eu estudava. Eu fiz as mesmas perguntas. Ele teria uma namorada russa e gostava de Elis Regina. Também conversamos um pouco sobre academia e suas expectativas em relação a isso. Pra mim isso já foi suficiente para combinarmos nosso encontro que seria na próxima semana. De repente uma janela se abre na cidade para o estranho. É verdade. A burocracia funciona. A racionalidade instrumental pode criar coisas muito curiosas, essa seria uma delas.
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Breitner Tavares é doutorando em sociologia pela Universidade de Brasília - UnB e bolsista internacional da Fundação Ford e Comissão Fulbright. Atualmente, desenvolve seu trabalho de pesquisa na Universidade de Berkeley – Califórnia, na condição de visiting scholar, no departamento de Estudos Étnicos. Breitner tem se dedicado a estudar formas de orientações coletivas em espaços segregados no Distrito Federal, como em Ceilândia-DF, cidade em que nasceu.
Doctorate student in Sociology at the University of Brasília – UnB. The author has a Ford Foundation International Scholarship and a Fulbright Fellowship. Nowadays, the author is a visiting scholar at Ethnics Studies department at UC. Berkeley - California. Breitner have studied about social presentation and its relationship with space in Brasília.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, Breitner! Que bom ter notícias suas! Adorei a idéia do "conversation brother"!Ñ sei se eh realmente um esquema burocrático, mas talvez um modo de fazer para quem ñ leva muito jeito para fazer de outro jeito! Tô passando uma temporada em Buenos Aires e quando tiver inspirada, mando notícias de como eh passear com um corpito negro por aqui! Besos! Jana.