sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

"Happy Peppers: Por uma Vida Orgânica - Parte 2", por Breitner Tavares.


Feira do Rolo Global


Eu encontraria minha resposta a algumas milhas dali, ao lado Estação Ashby, num cantinho, numa encruzilhada. E minha resposta ao enigma da cidade passa pela idéia das cidades mundos como diria Milton Santos, que estriam mais para uma relação de verticalidade, contatos internacionais, globais do que relações de horizontais, voltadas para a vizinhança local tradicional. Na verdade creio que a Feira do Rolo seja a melhor referencia para entendermos os fluxos de inclusão e exclusão.

Pouco antes de chegar a estação onde fica a Ashby Flea Market, eu já fui imediatamente tomado por um som percussivo que não me dizia ao certo se estava indo a África ou ao Caribe. Eu estaria navegando em qualquer lugar do Atlântico. Quando chegue mais perto, ví um estacionamento com vários carros e tendas, que ficavam abaixo do nível da principal avenida e do metro. Encoberto por algumas árvores, se não fosse pela sonoridade talvez tudo isso tivesse passado despercebido. Havia um grupo de umas vinte pessoas the Drum Circle, cada uma com um instrumento, congas, bateria, agogô, maracás, cachichis, surdos e uma séries de outros instrumentos grandes e pequenos, mas todos sonoros. Eram basicamente latino americanos e africanos que fizeram daquele canto, uma esquina do mundo.

Em Ashby Flea Market há de tudo um pouco, artesanato africano, indígena, artigos usados como roupas, aparelhos eletrônicos, em fim de tudo um pouco. Muitos produtos eram expostos sob lonas estendidas no chão. Tudo com muita simplicidade e cuidado era ofertado aos que ali estavam “de passagem”. Confesso que fiquei um pouco aturdido, mas enfim eu havia encontrado a Ceilândia, ou melhor, a Feira do Rolo. Durante algumas semanas, ou sempre, que eu me sentia só, bastava eu chegar a Ashby, para eu retornava a um lugar o qual não sabia bem ao certo, mas que paradoxalmente me era familiar. Comprei algumas coisas usadas, conversei com as pessoas, muitas das quais me contaram suas histórias, suas travessias. A maioria era migrante, alguns não documentados, Nigéria, Guatemala, Congo, Costa Rica, México entre outros. Todos trabalhando sob condições precárias. Ashby se configura enquanto uma alternativa para essa comunidade a mais de 30 anos. Sofrendo a pressão da Prefeitura local a Feira já esteve em lugares diferentes, agora ela teria um caráter mais “turístico” e, portanto mais “aprazível”, oferecendo iguarias e algum tipo de artesanato. Contudo, soube que a mesma associação a criminalidade sofrida pela Feira do Rolo em Ceilândia ocorria ali. Por exemplo, quando uma bicicleta é roubada chegava-se a afirmar, mesmo sem qualquer evidencia concreta, que ela teria ido parar no Flea Market.

Contudo, ao contrario do que foi dito em relação ao estigma de criminalidade, o que eu presenciei foi uma comunidade unida numa espécie de movimento, não simplesmente pelo emprego sazonal no fim de semana, mas pelo reconhecimento e inclusão naquele espaço público. Muitos assim como na Feira do Rolo em Ceilândia estão ali num processo de sociabilidade. Mais do que troca de mercadorias há troca de afetividade. Numa cidade onde toda arquitetura é voltada para o privado em detrimento do público, a feira se impões enquanto espaço aberto, para circulação e interação.

Antes de voltar pra casa, resolvi tocar pandeiro com o pessoal. Pois a única coisa exigida para estar ali e a vontade te tocar e o instrumento. O diálogo se da pelo ritmo. Depois de umas tentativas, percebi que a música tinha quebrado algumas barreiras continentais da impessoalidade. Alguns passaram a me cumprimentar. Conheci um nigeriano e um americano. Foi aí que John um senhor de cabelos brancos 62 anos que me informou sobre alguns detalhes sobre a origem do grupo Drum Circle. Ele teria se iniciado no campus de Berkeley nos anos setenta. Composto por vários instrumentistas advindos principalmente de vários países africanos, num período de mais efervescência política na Universidade, contudo gradualmente a universidade perde a força enquanto espaço de mediação do debate e das ações contra a opressão. Isso, segundo John, teria sido a razão para o grupo abandonar o campus em direção ao Flea Market onde a maioria é negra e indígena persiste. Ele ainda mencionou a pressão imposta pela BART Police contra os músicos e feirantes. Eu soube que numa ocasião alguns músicos foram presos porque ultrapassaram um único minuto o horário limite que é às 10 da noite. Por fim ele ainda me mostrou alguns documentos que tentavam justificar a presença de um grupo que já está ali há décadas.

As Feiras do Rolo ou Flea Markets são referencias empíricas de como os sujetos sociais oprimidos buscam suas estratégias de enfrentamento materiais e simbólicas dessa ultra modernidade coloniais. Em cada lugar, todos os lugares, nowhere.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi moção curtindo pacas de cenários? Bem bom dia. To mirando o digitar pensando, meditando algo contemplativamente lugar e indivíduo - se de tal modo e sorte quiseres exponhas qual tal - e mais percebo da provável outra socióloga no quadro ao lado, embora fora da quadrícula. De A. C. F, de Andrade. Tão saindo o que já fermentava nas adjacências (ótimo termo...) do que se convém ter por salubre ao plano Piloto, aliás, alas, tem isto manche?
Do fazer, do agir, isto incomoda ou o como perceber e bservar esses montões? Dica: sim, possuo-a e a transfiro monumen... larga, entusiástica, afetiva e espiritual. "MAnual de Direito comercial" por Fábio Ulhoa Nasdeo Colho, PUC sp, umas edições, agora recém saído do prelo parte EMPRESA. O que dá???? Ensejos de antevisões cosmogônicas, sem apelações tartamudeantes ou de fulcro - se contiver - advindo, oriundo de laivos torpóricos. Dá-lhe Fábio... E oce siga bem homem a las playas de "CLIFF" I watched the serie by record Tv set. Do you know or heard about? Une immense restaurant....

Nous nous remercions...