Weber, Max. As causas sociais do declínio da cultura antiga. In Cohn, Gabriel (org.) Weber: Sociologia. Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1997.
1. Idéia central tratada no texto:
A idéia central do texto é buscar as causas sociais do declínio da cultura antiga.
Para tanto, Max Weber procura encontrar nos aspectos internos, fundamentalmente nos aspectos sociais, as causas da queda do Império Romano.
Essas causas são encontradas em alguns aspectos sociais que se transformam ao longo do tempo e dão origem a novos tipos de relações sociais e a um novo tipo de organização político-econômica.
Pode-se destacar entre as causas do declínio o fim da tendência expansionista do Império, que levou a pacificação interna e externa e fez reduzir o aprovisionamento regular do mercado de escravos com material humano. A conseqüência dessa pacificação, segundo Weber, foi uma aguda crise de mão-de-obra e a posterior impossibilidade de que a produção progredisse com base nos quartéis de escravos. Assim, o escravo transforma-se em servo e é devolvido para a família e para a propriedade pessoal. A decadência da cultura antiga acontece, portanto, simultaneamente ao fortalecimento da família.
Além disso, a produção para a venda por meio do trabalho prestado nas condições da Antiguidade torna-se inviável, pois para a produção comercial era pressuposto imprescindível o quartel disciplinado de escravos. As grandes propriedades desligam-se assim do comércio e do mercado da cidade.
As cidades sem as trocas mercantis vão ao longo do tempo perdendo a sua importância.
Sendo assim, para Max Weber as causas da queda do Império podem ser encontradas em todos esses aspectos, principalmente no desaparecimento gradual do comércio e no conseguinte crescimento da economia natural e arrefecimento das atividades comerciais urbanas.
Cidade: local portador da vida política, assim como da arte e da literatura. É também um local que se baseia originariamente na troca.
Oikos: organização de economia natural com centro na unidade doméstica patriarcal ou patrimonial.
Quartel de escravos: conjunto de escravos que pertencem a um proprietário e trabalham nas terras deste. Esses escravos não possuem família, nem propriedade. O trabalho realizado por eles é rigorosamente disciplinado e é inspecionado por capatazes.
Servo: trabalhador rural que cultiva a terra conferida pelo senhor e que em compensação está obrigado a determinadas prestações.
As causas do declínio do Império Romano não são externas ao Império. Quando este se fragmentou, não foi subitamente, no embate com alguma força poderosa. As causas de seu declínio podem ser buscadas em fatores internos.
Max Weber lembra, entretanto, que a desagregação do Império não coincide com a derrocada da cultura da Roma Antiga. Segundo ele o Império Romano, considerado como entidade política, sobreviveu vários séculos ao apogeu de sua cultura. Já em princípios do século III a literatura romana, a poesia latina e grega e a historiografia já haviam se esgotado.
Assim sendo, a principal questão que o autor busca responder ao longo do texto é esta: a que se deve a queda da cultura no Mundo Antigo?
Ele argumenta que foram usadas as mais variadas explicações para dar resposta a essa pergunta. Alguns estudiosos dizem que a desagregação do Império se deve ao despotismo que teria, em certa medida, esmagado psiquicamente o homem antigo, sua vida pública, sua cultura. Outros dizem que as causas são o luxo e a imoralidade dos círculos sociais mais elevados. Ou ainda, a causa seria a mulher romana emancipada e o rompimento do vínculo matrimonial entre as classes dominantes que teriam desfeito as bases da sociedade. Utilizou-se até mesmo uma hipótese darwinista que afirma que o processo de seleção, praticado no recrutamento do exército, e que condenou ao celibato os mais fortes, acabou por degenerar a raça antiga.
Porém, para sua explicação, Weber não considera nenhuma dessas hipóteses. Ele utiliza fundamentalmente causas sociais.
Para explicar a queda do Império Romano Max Weber considera importante analisar as peculiaridades da estrutura social da Antiguidade, pois segundo ele o ciclo de desenvolvimento da cultura antiga está determinado por elas.
Sendo assim, é importante ressaltar primeiramente o caráter urbano da cultura antiga. Nessa cultura a cidade é portadora da vida política, assim como da arte e da literatura. Também é a cidade o centro econômico, onde ocorrem as trocas dos produtos da indústria urbana com os frutos da estreita orla agrícola circundante.
A cultura antiga da Europa é também uma cultura litorânea, assim como sua história é, de início, a história das cidades costeiras, algumas sendo os grandes centros comerciais da época.
Quanto ao comércio, este não era muito intenso e reduzia-se a uma fina camada de artigos de luxo. As trocas ocorridas nas cidades são diretas e imediatas entre produtores e consumidores, cobrindo assim, as necessidades sem importação do exterior.
A cultura antiga é também uma cultura escravista. Os escravos eram obtidos por meio de guerras, que levavam constantemente material humano para o mercado, e que desta maneira fomentavam o trabalho servil e a acumulação de homens.
Ao longo do tempo algumas dessas características da cultura antiga vão mudando. Uma das mudanças é que com a inclusão de grandes áreas de terras interioranas, fortalece-se de modo decisivo a significação cultural do trabalho servil. O centro de gravidade da população do Império Romano translada-se para o interior. Com isso, a cultura antiga muda seu cenário, convertendo-se de cultura litorânea numa cultura interiorana. O proprietário de escravos passa a ser, assim, o suporte econômico da cultura antiga, e a organização do trabalho de escravos passa a constituir a infra-estrutura imprescindível da sociedade romana.
Segundo Weber o ponto crítico da evolução da cultura antiga se dá com uma aguda crise de mão-de-obra. Com o fim da tendência expansionista do Império Romano e, com a pacificação interna e externa, contrai-se e reduz-se o aprovisionamento regular do mercado de escravo como material humano e, assim, instala-se uma crise de mão-de-obra. Com isso torna-se impossível continuar a produção com base nos quartéis de escravos.
Em conseqüência o escravo transforma-se em servo e passa a possuir uma família, assegurando, assim, a renovação e, portanto, uma provisão permanente de força de trabalho, que já não podia ser procurada no mercado de escravos.
Essa evolução trata-se de um forte processo de transformação nas camadas inferiores da sociedade: a família e, paralelamente a esta, a propriedade pessoal são restituídas às camadas inferiores.
Assim, as trocas comerciais vão paulatinamente diminuindo, pois para a produção comercial era pressuposto imprescindível o quartel disciplinado de escravos. Nas regiões internas principalmente, em que os servos viviam esparramados em casarios, a produção para a venda teve que acabar e os sutis fios de comércio, estendidos sobre aquele fundo de economia natural, tiveram que se enfraquecer mais, e por fim, romper-se.
É desta maneira, portanto, que Max Weber explica a queda da cultura antiga. Para ele a queda do Império Romano foi a forçosa conseqüência política do desaparecimento gradual do comércio e do conseqüente crescimento da economia natural. E, na essência, significou tão-somente a eliminação do antigo aparelho administrativo e, portanto, da superestrutura política de um regime de economia monetária, que já não se ajustava à infra-estrutura econômica, que vivia num regime de economia natural.
Max Weber se propõe a encontrar as causas sociais do declínio da cultura antiga e de fato muitas das explicações dadas por ele são sociais, tais como o fortalecimento da família e o surgimento de novas relações sociais e de trabalho, que é o caso, por exemplo, da relação entre servos e o proprietário da terra. Entretanto, boa parte de sua explicação está calcada em aspectos econômicos, tais como o desaparecimento gradual do comércio e o crescimento da economia natural. Assim, pode-se dizer que sua explicação é essencialmente social, mas que também leva em consideração muitos aspectos econômicos.
Algo que também é importante ser destacado é o desaparecimento da cidade e o quanto esta era muito importante para o que Max Weber chama de cultura antiga. Segundo ele era a cidade a portadora da Arte, da Literatura, da Ciência. Com o desaparecimento dela desaparece também a cultura. Além disso, vale destacar que o que leva a derrocada da cidade é o desaparecimento do comércio, provando assim que a cidade é o local da troca e do comércio, quando este diminui sua intensidade a cidade desaparece também.
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